terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Febre do Poker

Há uns tempos atrás a minha mãe questionou-me porque é que nunca mais liguei a TV que tenho no quarto, ao lado do PC. Respondi-lhe que tenho mais motivos de interesse no PC e muitos menos na TV. Esta resposta nunca fez tanto sentido como hoje.

Soube há uns dias da reportagem que iria ser exibida na SIC e rapidamente isso despertou em mim alguma desconfiança. TV's privadas em Portugal são um lixo autêntico, viradas para um público que não tem vontade de pensar, que não quer aprender mais e mais, quer apenas lançar intrigas e motivos de discussão para o café da manhã seguinte.

Ainda assim, não foi o suficiente para me fazer ficar em casa e trocar o visionamento deste por um café. Ao chegar a casa vejo toda a polémica instalada no PokerPT. Não me deitei enquanto não vi a reportagem.

Quero deixar alguns pontos aqui bem claros:

- A reportagem foi feita com más intenções, ponto final! A predisposição do jornalista, a forma como provoca os jogadores entrevistados, mostra isso perfeitamente. Esse senhor, se é assim que merece ser tratado, calculo que faça reportagens no seu dia-a-dia. Cada vez que estuda um tema, deve aprofundá-lo. Ora isto claramente não aconteceu desta vez. Estar ali aquele jornalista ou qualquer leigo na matéria era a mesma coisa, pois o preconceito (que atenção, é natural em que não conhece o jogo) estava sempre presente e de uma forma provocadora. Aliás, como já vi o António Palma a dizer no forúm, esta reportagem teve um tom totalmente inesperado, o que leva a crer que, tirando aquela pergunta do "dinheiro fácil", o resto terá sido num tom mais amigável, digamos assim. Pelo que outras pessoas relataram, vários jogadores preocuparam-se em explicar tudo o que envolve o Poker, perderam tempo a explicar-lhe pormenores essenciais que fariam qualquer pessoa, pelo menos, tentar ver se as coisas eram realmente assim.

- Não foi o caso. Ora daqui tiro duas conclusões, sendo as duas preocupantes: ou o jornalista é um autêntico atrasado mental, o que me preocupa no aspecto em que espero que as universidades estejam a formar profissionais decentes e não pessoas que à primeira oportunidade esquecem as regras de ouro da sua profissão; ou então simplesmente trata-se de uma reportagem encomendada, o que, infelizmente, se afigura como o mais provável. Mas já aí vamos, para não ser acusado de teoria da conspiração

- A reportagem começa logo muito mal. Antes mesmo de falar do poker em si, começa-se logo a falar de viciados em jogo. E sobre isto há muito a falar, sem dúvida.

- O Rodrigo diz que tem um problema com o jogo. Rodrigo, estás enganado. Tu tens um problema de distúrbios mentais. Passo a explicar: pessoas que têm sorte no inicio, há muitas. Pessoas que se deslumbram e jogam em niveis mais altos do que deviam, também há muitos. Mas aqui começa a tua primeira estupidez. Para jogar poker, é necessário estudo, muito estudo. Se não estudaste o jogo, não venhas dizer que perdeste dinheiro com azar. Não, perdeste dinheiro porque és estúpido. É como amanha desatares a comprar acções duma empresa que toda a gente sabe que está falida mas que tu não sabes porque não estás dentro do assunto. Em segundo lugar, outra regra de ouro no poker: apenas joga nos niveis em que te sentes confortável. Se não te sentes confortável a jogar a 100€, desce para 50€. Se não te sentes confortável a 50€, desce para 20,10,5,1 euro...ou joga playmoney. Agora vou à parte dos distúrbios mentais. Uma pessoa que diz que arranja desculpas para faltar a um funeral para jogar poker, desculpem não é um viciado, é sim uma pessoa com problemas mentais gravíssimos e já teria que os ter antes.

- Eu falo por mim. Talvez ande mais caseiro, talvez. No entanto, continuo a ter os meus amigos (felizmente não são poucos), estou a frequentar um mestrado e com bons resultados. Passo exactamente o mesmo tempo no computador. Só que em vez de jogar Football Manager, jogo poker, é simples. Tenho tempo para tudo.

- Quanto ao outro senhor, de mais idade, meus amigos desloquem-se aos casinos portugueses e vejam a quantidade de pessoas de mais idade a correrem para as portas na abertura destes. Em Espinho, é uma coisa impressionante e nenhum destes vai jogar poker. Vão jogar jogos contra o casino, jogos em que têm as probabilidades altamente contra eles.

- É neste ponto que mais uma vez tenho que criticar duramente este jornalista. De um momento para o outro passa-se de poker para roletas, blackjacks e, mais grave que isso, para o video poker, sem explicar as devidas diferenças. Ora o video poker não passa de mais uma slot machine banal e ridícula, nas quais eu nunca gastarei um cêntimo que seja. Eu, "suposto viciado em poker e possivel destruidor de fortunas e familias", recuso-me a, literalmente, entregar dinheiro a casinos. Cada vez que se insere uma moeda numa slot, parece que se ouve o Stanley Ho a ecoar aos ouvidos "Obrigado pela sua estupidez, volte sempre!".

- Passemos aquele psicólogo. Eu não sei o que ele conhece do jogo mas duvido que seja grande coisa. Problemas com o jogo sempre houve. Vícios há em tudo. Tudo o que possa ser consumido em excesso torna-se um vício, podendo ser mais ou menos grave. As pessoas que se deixam viciar completamente pelo poker estão mais fracas psicologicamente e, por isso, se não fosse pelo poker, seria por outro jogo qualquer. Não se trata de um problema do jogo mas da pessoa em si.

- Ele diz que há pessoas que perdem o controlo sobre o dinheiro que gastam no poker. Exacto, como há pessoas que perdem o controlo sobre o que gastam em viagens, em carros, em tabaco, em casas, em prostitutas, em restaurantes, em bebida, bla bla bla, ficava aqui o resto da noite. Mais uma vez sou levado a concluir, o problema não está no poker, está na fraqueza das pessoas. Mais uma vez falo um pouco sobre o meu caso. Recebi através de um site 50$ para jogar na Full Tilt. Já tinhas umas luzes do jogo e, por isso, até começou por me correr bem. No entanto, como não me dei ao trabalho de estudar para evoluir e sequer de saber o que era gestão de banca, os 50$ que se tinham multiplicado por 5 desapareceram rapidamente. Nisto, vejo outra promoção, que me dava 50$ para jogar na Tony G. Em duas semanas, transformei estes em 290$, levantei-os na íntegra e depositei 60€ na Unibet, onde me mantenho até hoje. Conclusão? O meu investimento financeiro no poker é igual a ZERO! Nunca tirei dinheiro do meu para jogar. Tudo o que invisto no poker é dinheiro gerado no poker.

- Fala que algumas pessoas ficam sem dinheiro para férias por causa do poker. Engraçado, no meu caso é precisamente o contrário. Foi o poker que me proporcionou poder elevar a minha qualidade de vida e fazer férias com o meu dinheiro. Para além disso, permitiu-me poupar uma boa importância para o futuro, que está indisponível para ser utilizado no curto prazo. Sem querer elevar-me como fantástica pessoa, a que conclusão chegamos? A mesma de sempre, o problema não está no jogo, está na pessoa. Trata-se de uma questão de ter capacidade ou não de gestão, controlo e visão de futuro. Como em tudo, as pessoas que falham nisto são perdedoras, seja no poker, na vida empresarial, na bolsa ou em qualquer outra coisa onde possamos investir o nosso dinheiro. O importante é que se invista dinheiro naquilo que dominamos e naquilo que percebemos que tem uma boa rentabilidade esperada. Se eu não perceber nada de bolsa (que não percebo, embora queira mudar isso) não vou gastar dinheiro na bolsa. No poker é igual, quem não sabe jogar, é devorado por quem sabe. Como em tudo na vida.

- Engraçada é, também, a forma como é encarado o desinteresse do Michel e do Palma pelas praias. Ok,as Bahamas podem ser, de facto, paradisíacas. Mas há algum mal assim tão grande que eles simplesmente prefiram ficar no seu quarto a trabalhar? Sim, porque esta é a actividade deles, é a profissão deles, é dali que retiram o seu rendimento e gostam do que fazem. Se naquele hotel estiver um empresário embrenhado no seu negócio importantissimo que veio ali realizar, alguém o vai chatear por ir ou não à praia? É óbvio que não. Todo esta má imagem transparecida vem, apenas e só, do preconceito criado e reforçado por este reportagem, que eles não vão à praia porque tão viciados, porque não conseguem largar o portátil, porque o vício e a ganância de ganhar mais dinheiro falam mais alto.

Pegando nestas últimas palavras concretizo: o mesmo dinheiro que moveu este jornalista nesta sua cruzada. Nenhum repórter encara um tema com a forma tão agressiva e despropositada como ele encarou esta realidade do poker. Tendo em conta que há varias instituições que nos últimos tempos têm-se esforçado em denegrir a imagem do poker, com as mesmas razões invocadas nesta reportagem, sou levado a concluir que esta reportagem nasceu, foi desenvolvida e concluída com uma profunda má-fé e um próposito: fazer com que o poker volte a ser mal visto, de forma a que possam manter-se os monopólios existentes e criar outros, como foi revelado, aliás, muito directamente por aquele responsável de um casino.

Finalmente, tenho a deixar os parabéns à Santa Casa da Misericórdia. Parabéns por ter sido a empresa mais lucrativa no ano transacto, a ultrapassar os tão diabolizados bancos. Parabéns, ainda, por terem conseguido em uma noite, arruinar todo o trabalho de credibilização de um jogo de inteligência, cálculo, análise de pessoas e tantas outras variáveis, que é o poker. O dinheiro do Euromilhões faz milagres. Pelos vistos, há sempre um contemplado, a mesma Santa Casa. Que assim se pode dar ao luxo de ajudar um pobre jornalista que, quem sabe, nem dinheiro para 1 maldito cigarrito tem.

PS - Agradeço, também, a todos os envolvidos nesta produção, que a partir de hoje falar sobre poker com qualquer leigo na matéria, mais concretamente com a minha família, seja um assunto de "cortar à faca". Durante muito tempo tentei passar a mensagem sobre o que realmente é o poker e as suas diferenças para os jogos de casino. Obrigado SIC e obrigado SCM por voltar a ser visto como o filho, sobrinho, amigo, ou seja lá o que for, que joga poker e que por isso vai arruinar a sua vida. O que vale é que há sempre os Jogadores Anónimos...mas de roleta e afins não percebo nada, não sei se se me irei identificar com os restantes.

5 comentários:

nezzi77 disse...

boas
grande post mestre!
ainda bem k tou na romenia pa nao levr com o meu velho!!!eheheh

Anonymous disse...

Concordo com tudo o que disseste...bem...com quase tudo.

Como sabes, não jogo poker sem ser para me divertir de vez em quando e, meu Deus, aquela reportagem ontém só teve 2 sentidos: ou era o "glamour", ou eram aqueles agarrados que lá apareceram.

O único ponto em que não estamos de acordo diz respeito aos 2 que foram às Bahamas e não saíram do quarto escuro - que, diga-se de passagem, deu um ar muito dramático à cena!! Pá oh Carlos, tudo bem, a vida é deles...mas fds BAHAMAS!!!!!!!! Sim!? Faço-me entender? Não é que eles tenham um horário fixo para jogar...BTW, eram jovens, por isso, podendo ferir susceptibilidades, cheira mesmo a "agarranço" um tanto doentio. Penso que foram 2 personagens escolhidas a dedo para transmitir o lado mau da cena...

De resto, concoerdo contigo...cheira-me que a expressão "workaholic" não foi inventada por causa do poker...enfim
Duarte

Anonymous disse...

bom post... concordo.

lizardking disse...

boas Carlos...concordo com tudo o q tu dizes apenas gostava de comentar o 2º comentario deste post (Duarte) apesar de so conhecer de vista o datani e o palma axo q n se pode nem se deve falar de agarranço ao jogo ou viciados. akilo é o seu trabalho como eu tenho o meu e outros tb o tem. simplesmente sao 2 pessoas q n gostam de ir a praia mas q tiveram trabalho nas bahamas.... se for a las vegas sou obrigado a conhcer o grand canyon, ir a um bar de strip... se for a londres ou a paris, barcelona a um torneio de poker sou agarrado se so for jogar e n acabar a visitar a tower bridge, a torre eifel ou a catedral de barcelona, nao axo q nao...apenas vou trabalhar...se podiam aproveitar as condiçoes das bahamas podiam..ai tanta gente q n gosta de praia...para eles ir as bahamas ou ir a las vegas é igual...eles vao com um objectivo jogar poker e rentabilizar o tempo deles la. eu pessoalmente se fosse a esses sitios fazia isto tudo claro...mas eu n sou jogador profissional de poker nem la perto mas entendo os dois jogadores.

gr alt disse...

pah cada um é como cada qual...