A começar, um grande, enorme elogio à estrutura do torneio. 15 mil fichas iniciais e niveis de uma hora é simplesmente fantástico para praticar poker de alto nível, sem pressas. Em seguida, o facto de serem 30 os lugares premiados, algo que também já defendi num post anterior que também deveria ser prática na Solverde Season.
DIA 1 - 6 de Novembro
Vamos ao que interessa. 19 horas de 6ª Feira, sou colocado numa mesa em que se destaca claramente Diogo "Phounder" Veiga, e que incluia outros 2 ITM, Tiago Pina e Filipe Monteiro. Phounder, desde o inicio, tenta assumir a liderança da mesa mas a primeira jogada de destaque dá-se comigo envolvido. Logo na 3ª mão recebo um sempre agradável A A no UTG+1 e faço raise para 200, já depois de um limp no UTG, recebendo call de mais 4 jogadores. No flop sai 6 4 4. UTG check, eu bet 250, 3 jogadores fold, até que o UTG faz raise para 1100. Confesso, não fui capaz de largar os Ases logo ali e depois de bastante pensar, faço call. No turn sai um reconfortante A para full house. O UTG dá check e eu também dou check. Sei que é uma decisão bastante polémica mas a minha ideia foi dar-lhe a sensação que aquele A também não foi positivo para mim. Neste momento sei que muito provavelmente ele terá o trio de 4 e que apenas há uma mão que me pode vencer. Por isso, dei check, esperando por uma forte bet por parte do jogador. No river sai J e o UTG, tal como eu esperava, faz uma bet de 3500, praticamente o valor do pot. Eu penso bastante sobre a melhor forma de extrair-lhe o máximo de fichas e faço raise para 8500. Depois de cerca de 5 minutos, o jogador acaba por foldar, afirmando que foldou 4 2. Acredito que ele tivesse essa mão embora considere um pouco duvidosa a sua acção pré-flop.
Nisto, ao fim de 3 jogadas, vejo-me com cerca de 21 mil fichas, sendo provavelmente o chip leader do torneio, embora por pouco tempo, pois um jogador noutra mesa decide fazer uma verdadeira parvoíce (não tem outro nome), ficando reduzido a 300 fichas e fazendo double up ao seu adversário. Deixo aqui o vídeo da jogada, porque realmente...só visto!
Voltando à minha mesa, e ainda no 1º nível de blinds, com cerca de 30 minutos de jogo, o Filipe Monteiro (não sei precisar a sua posição na mesa) faz raise para 200 e eu com Q Q faço re-raise para 550. Para minha surpresa, ele faz re-raise para 1750. Pode parece ingenuidade minha mas do que tinha visto até ali, fico com praticamente a certeza que ele está mais forte que eu. Faço o call apenas na esperança de bater uma Q no flop e poder eliminá-lo do torneio. No flop sai J 9 6 e ele faz bet de 3200. A minha leitura mantêm-se e por isso foldo as damas.
Ainda no primeiro dia aconteceu algo que para mim foi uma surpresa desagradável. Ao voltar de um intervalo, notei que me faltava uma ficha laranja de 1000, o que na altura representava um valor bastante elevado. Compreendo que para a organização seja algo dificil de ser reestablecido (eu poderia perfeitamente estar a mentir) mas serve-me de lição para nunca mais sair antes do final da última mão antes do intervalo. O período da troca de dealer torna-se pode abrir oportunidade a estes episódios negativos.
16 horas reinicia o maior torneio de sempre realizado em Portugal. Muitos jogadores importantes estão shorts e tentam o tudo por tudo para dobrarem. Mudo de mesa, acompanhado pelo Phounder,e junto-me a outros jogadores como o Hugo "Alive" Almeida, Luis Vale e Pedro Santos, entre outros. Começo o dia bastante calmo, tentando analisar os novos adversários. Noto que os dois primeiros jogadores que referi são bastante sólidos, Pedro Santos está a tentar dominar e agitar a mesa, Phounder precisa de dobrar e entra em all-in mode e ainda temos um espanhol completamente doido que faz jogadas absolutamente ridiculas, como a que faz ao eliminar Phounder. Ao fim de algum tempo, acabo por me envolver num pote que se viria a revelar fundamental para o meu torneio. Pedro Santos faz raise para 1100 e eu faço call com 10 10. No flop sai 5 5 5, para full house. Pedro faz continuation bet de 1500 e eu faço call. Admito que nesta jogada joguei com algum receio, sem certezas da minha leitura. Ou melhor, no flop tenho quase a certeza que estou à frente. No turn sai um J e isso podia complicar-me as contas. Ele volta a fazer bet, agora de 3500 e eu após muito reflectir, faço call. Sei que muito dificilmente posso foldar a uma nova aposta no river. Felizmente para mim, sai uma carta baixa. No entanto, Pedro Santos coloca 9500 fichas e coloca-me numa situação muito complicada. Faço contas e percebo que se faço call e perco o pote, fico reduzido a 8000 fichas, numa posição nada agradável. A minha linha de raciocinio foi: vou jogar para ganhar! Acho pouco provável que ele esteja à minha frente, pelo que tinha visto até aí dele. Faço call e para meu alívio vejo o K 7 de Pedro Santos.
Passados uns minutos, nova jogada. Alive em middle position faz raise para 1100, folda tudo e eu na SB vejo os meus queridos Ases mais uma vez e fico-me pelo call. Flop Q 8 2 (2 ouros). Faço uma bet de cerca de 1/2 pot, 1500 e levo rápido raise para 4200. Naquele momento coloco-o logo em A Q. Muito dificilmente poderia ser outra mão e aqui cometo um pequeno erro: sendo a Q de ouros no flop, ele não poderia estar em flush draw e por isso o push não tenha sido a decisão mais correcta. No entanto, foi o que fiz, Alive fica completamente passado da cabeça, coloca a hipótese de eu ter trio e diz que não pode por em risco o torneio com top pair e top kicker. Pouco depois, volto a ter A A, faço raise para 1200, levo dois call's e Luis Vale, que tinha acabado de perder grande parte da sua stack, faz all in de 6 mil com J 8 de espadas. Os outros dois jogadores saiem da jogada e uma board sem grande história elimina Luis Vale. Com estas três jogadas em 2 horas, a minha stack mais que duplica, chego ao intervalo com 55 mil fichas. Confesso, foram duas horas douradas!
Primeiro erro: o re-raise é muito baixo, o Oversleep sabe que não tem que pagar muito mais e que com a possibilidade de fazer um set no flop pode levar um pote enorme. Segundo erro: não fazer bet no flop. À conversa com ele mais tarde, ele diz-me que imediatamente me coloca num par de mão e eu ao mostrar fraqueza perante o A no flop, estou perdido. No turn, ele aposta metade do pot e eu faço fold. Não perdi a jogada no turn, perdi-a no pre-flop e no flop.
Voltando ao meu jogo...vários potes perdidos levam-me a uma queda dramática até às 22500 fichas no intervalo, com a blind a 3000 e 42 jogadores em jogo. O sonho parecia que cada vez mais ia morrer na praia, mais uma vez. Vou até à praia, dou uns berros, peço que a estrelinha apareça...e volto para o Casino mais confiante que nunca. Entrei em "modo surviver"! No entanto, a minha stack ainda desce até às 15 mil fichas até que faço all in no Cutoff com 9 8 off. Filpac após muito pensar faz fold e Fernando Pinto Basto, que tinha feito limp no UTG, faz call com A 10 de espadas. Flop sai Q 10 x. Fico com gut shot e backdoor flush. No turn sai um 7 de copas, ficando com open hand e flush draw. Os dois draws acabam por se completar no river com um 6 de copas, para flush. Foi o primeiro de 2 all in's em todo o torneio em que parti atrás. Dobro para cerca de 37 mil fichas. A blind volta a subir e entramos nas últimas mãos do dia, quando percebemos que não vamos achar o bubble boy no dia 2. Até que chegamos à penultima mão do dia, onde a estrelinha voltou a comparecer. Filpac faz raise UTG para 9000, folda tudo e eu na BB volto a ver os meus amigos A A. Vou a all in, Filpac instant call K K e fica aterrado ao ver a minha mão. A board ainda assusta, no turn ele fica com 6 outs para vencer mas felizmente isso não acontece e cá estou com 70 mil fichas.
Agora vem a parte má da história. Com a emoção do double up numa altura tão decisiva, deixo o jogo prosseguir sem confirmar o número de fichas. Quando me dou conta faltam 9400 fichas!!!!! Arma-se uma grande confusão, acho que é compreensível a minha revolta, depois do que já tinha acontecido no dia anterior, e logo numa quantia tão considerável. Percebi que não havia nada a fazer e tive que tentar esquecer o sucedido. Não foi fácil, ainda dei bastantes voltas na cama. Tinha que ter confiança que o dia seguinte iria correr bem.
O dia decisivo chegou. O dia anterior acabou com 36 jogadores, média nas 80 mil fichas, eu com 60400 no 24º lugar. Ou seja, a minha atenção naquele momento apenas se centrava em chegar a ITM, tinha 12 jogadores atrás de mim, só tinham que perder 6. As eliminações sucedem-se até que chegamos ao ansiado "bubble boy time". Chego a esta fase com cerca de 45 mil fichas, numa situação nada fácil. Na mesa ao lado, um all in acaba em split pot e a aflição continua até que...
Renato Manenti, short no UTG, faz limp (blind a 6 mil) e eu em middle position faço all in. Podem ver o resto neste vídeo:
A blind sobe, sobe, os jogadores vão caindo, ficamos 23 jogadores e tou short com cerca de 40 mil. Entretanto acabo por foldar algumas mãos bem razoáveis, tendo a consciência que não é a melhor altura para pagar all in's de outros jogadores, tendo até atirado fora A J suited na BB, perante um all in em middle position. Em seguida, folda tudo e no botão faço all in com Q 8 off. A SB folda e a BB paga sem ver as cartas. Achei isso bom mas não tanto quando vi K J de copas. No flop bate Q 6 3 (2 copas). O flush draw acaba por não se concretizar e no river ainda completo o trio de damas. No entanto, continuo ainda com uma stack baixa em relação à média e quando já só estamos 18 jogadores, ou seja, já no 2º nivel de pagamentos e todos com a cabeça na FT, faço re-raise all in com A 8, tendo levado call do raiser inicial, Diogo "Diegoplayer" Salvini com 10 5. No flop sai um 8 e apenas no river sai um 5, dando-me finalmente um double up para uma stack acima das 200 mil fichas.
Os jogadores continuam a cair e chegam à minha mesa Ezgam e Paulo Sarmento. Logo ao inicio, Paulo Sarmento faz raise na SB para 35 mil, com a blind a 16 mil, e eu na BB com K 10 de copas faço call. Flop bate merda estrume cócó. Paulo faz check e eu sinto que o roubo dele está condenado ao fracasso. Faço bet de 45 mil e ele faz call. No turn bate esterco e ele novamente check. Neste momento sei que com uma bet elevada ele vai fazer fold, nota-se claramente que falhou a board. Faço bet de 65 mil, ele pergunta-me quanto tenho atrás. Começo a contar e quando chego aos 80 mil, ele folda. Um pote fantástico que me permite subir acima das 300 mil fichas e aí sei que dificilmente a Final Table me fugirá. Entretanto consigo ganhar alguns potes pré-flop, o Ezgam ainda me obriga a foldar 7 7 na BB. Havia decisões dificeis para tomar mas quase sempre decidi bem. Numa das jogadas, faço raise com K J de espadas e levo com all in de Larraitz, que era inferior ao meu raise. Vejo A 6 off. No flop fico em flush draw e no turn com gut shot na dama, mas apenas sai um J no river e perco um pote de cerca de 80 mil fichas. Nada de grave, pouco depois, a mesma Larraitz faz all in de cerca de 70 mil com A 10 e eu faço call com 10 10. Board sem história e elimino mais uma jogadora. Um pouco antes, tinha eliminado João "Luidgi" Costa em all in de pré flop com A Q contra 10 9. Faço trio de damas e elimino o 6º jogador em todo o torneio.
Com a eliminação de Kitten no 11º lugar, ficamos para o bubble boy da Final Table, lugar que ficou a cargo de Daniel Lopez, o tal espanhol louco da 1ª mesa do dia 2, péssimo jogador e com uma sorte inacreditável, ganhando inúmeros all in's com runner runner. Aqui fica a jogada em que ele é eliminado:
O grandioso objectivo estava alcançado: FINAL TABLE!!!
Ezgam cai no 9º lugar numa corrida de 4 4 contra A J de João Correia e logo depois, Ortega, que perdeu vários grandes potes, perde em 8º com K 9 contra A J de António Domingues.
O deserto de mãos e o avolumar da blind, 30 mil, faz com que a minha stack se reduza. Numa jogada na BB, Paulo Sarmento no botão faz raise e eu com 6 6 faço all in, necessito de colocar algum respeito perante as minhas blinds, que estavam a ser constantemente fustigadas. Paulo Sarmento pensa imenso e acaba por foldar 7 7. Que alívio enorme!! Mais tarde, acaba por ir a all in com a mesma mão e é derrotado pelo 6 6 de João "Pi" Correia. Ficamos 6 jogadores: eu com 336 mil e Mikel com 355 mil somos os short stacks. Quando via a minha situação bastante complicada, numa guerra de blinds, Katrina faz all in com A 9, leva call de Mikel com 5 5. Sai o 9 no flop e Mikel fica com 12 mil fichas. Logo a seguir, a mesma Katrina com Q Q elimina-o contra K 10.
Nesse intervalo é discutido um eventual chop, devido ao facto de já passar das 2h da manhã e o casino ter que fechar às 3h da manhã. Perante a possibilidade de ter que continuar o jogo no dia seguinte, o chop é aceite pelos 5 jogadores, sendo que ficam reservados 2500 euros para o 1º classificado.
O jogo acelera e Katrina é logo de seguida eliminada na 5ª posição. Pouco depois, Tozinho faz all in com K J e eu faço call com A 9. Se ganhasse este all in ficaria chip leader destacado com 3 jogadores mas a verdade é que ele faz trio de J. Logo de seguida, no botão faço all in com 9 8 de paus e o mesmo António Domingues faz call com J J. O flop ainda me traz o 9 mas não chegou. A minha participação terminava aqui, no 4º lugar.
Só agora que estive a relembrar todo o torneio sinto que isto aconteceu mesmo. Só posso estar imensamente feliz pelo que fiz neste torneio, tanto pelo dinheiro que ganhei mas acima de tudo pelo nível de jogo que mostrei. Talvez um pouco tight mas seguro. Admito, tive estrelinha mas também fiz por merecê-la.
Palavras finais para algumas pessoas. Referência para o Velez, esteve em grande no 1º dia mas foi abaixo no 2º dia, melhor sorte para a próxima; Alive, jogo muito consistente e certinho, foi pena morreres na praia; Luis Vale, mostrou bastante qualidade mas este não era o torneio dele, nada lhe corria bem; Yuran, um torneio de altos e baixos mas sempre a impôr respeito, a jogar assim mais tarde ou mais cedo também estarás na Final Table; Zumy, obrigado pela simpatia e humildade de dar os parabéns a todos os finalistas, fica sempre bem a uma referência como ele é; Oversleep, o jogador mais inteligente que encontrei, tudo o que ele faz tem uma explicação e tem lógica, jogador fabuloso; Lostlucky, pelos 15 minutos na mesa com imensa boa disposição e pelos minutos de boa conversa, uma estrela sem tiques de vedeta; Francisco Pinto Basto, um grande senhor, muito sábio, aquele fold de K K é para ficar nos livros; ao Horus, por me ter acalmado naquele momento mais complicado no final do dia 2; e a todos os finalistas mas em especial aos 4 últimos, Katrina, João Amorim, João Correia e António Domingues! Foram grandes!
Agradecimento também para todos os que me apoiaram no report do PokerPT ou por SMS: Pedro Ferreira, Portillo, Ferro, Carlos Lopes, Candeias, Meireles, Jota, Mitul, o meu irmão e até o grande RugbyWolf (espero não estar a esquecer-me de ninguém).
Obviamente, palavra final para o grande António Torres! O torneio não correu como ele esperava, quedando-se pelo 74º lugar, mas foi mestre a pedir cartas. Ele, como ninguém, soube trazer as cartas certas para os meus decisivos double ups! Obrigado por todo o apoio!
1 comentário:
Boa jogatana!
Bom relato do torneio!
:)
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