Nos últimos tempos está na moda fazer comparações com o passado. Comparações idiotas, diria eu; comparações justissimas, diriam outros. Vou aqui apresentar os meus argumentos e factos.
Está em marcha, neste momento, uma grande manifestação dos professores contra as politicas do Governo de José Sócrates na área da educação. Não estou aqui para discutir se essas politicas estão certas ou erradas, isso é muito subjectivo. Nos últimos meses, e com especial incidência nas variadas manifestações dos professores e noutras a cargo do PCP, têm sido empregues, múltiplas vezes, a palavra "fascistas" e expressões como " voltamos ao tempo do Salazar".
O mais grave nisto tudo é que se isto fosse dito por pessoas mais novas, que não viveram na época da ditadura salazarista, ainda haveria uma certa desculpa. A verdade é que são as pessoas mais velhas que mais empregam estas palavras, o que é verdadeiramente lamentável e de um desrespeito inacreditável pelo carácter das pessoas que governam.
Se bem se lembram (ou estudaram) no tempo de Salazar qualquer artigo ou pedaço de artigo que estivesse frontalmente contra ou subentendido contra o regime, era imediatamente censurado e o seu autor perseguido, torturado e, em determinados casos, enviado para prisões com costumes terríveis. Outros regimes fachistas foram ainda mais longe, com verdadeiras limpezas étnicas. ISTO É FASCISMO!
Agora, um Governo que tem alguma dificuldade em ouvir os parceiros sociais, também porque lhe foi dada uma maioria absoluta em sufrágio que lhe permite um poder de decisão mais efectivo, que tem um espírito assumidamente e indiscutivelmente reformista, que ataca vários previlégios instalados e completamente injustificados, é acusado de fascismo. Poderão não concordar com estas coisas que digo, mas quanto muito é um mau governo, não um governo fascista. Há acusações e acusações mas acusar de fascismo é muito grave e não pode ser encarado de ânimo leve, até porque o fachismo é proibido pela Constituição.
Mais: nesta mesma constituição está consagrado o direito à manifestação. Pois está mas dentro de determinadas regras que qualquer miúdo de 10 anos sabe. Toda a gente sabe que é necessário um pré-aviso à policia e ao Governo Civil, por razões óbvias. Sem estes pré-requesitos, é normal que a policia identifique os organizadores de uma manifestação fora das regras, ou seja, ilegal. ISTO NÃO É FASCISMO, é cumprir a lei.
Ontem, à porta da sede do PS de Chaves, Augusto Santos Silva foi confrontado com mais um grupo de pessoas com o mesmo tipo de acusações e, provavelmente farto de todas estas campanhas idiotas de difamação, soltou tudo o que ele, e muita gente com a cabeça no lugar, pensa: estas pessoas parece que não se lembram como eram os tempos de Salazar. Mais: se há pessoas que foram responsáveis pelo 25 de Abril, foram pessoas ligadas ao PS, como Mário Soares, Salgado Zenha e Manuel Alegre e não Álvaro Cunhal que pretendia destruir uma ditadura fascista para instalar uma ditadura comunista. Não sei que tipo de consequências terão estas declarações do Ministro dos Assuntos Parlamentares mas não contêm nenhuma mentira nem provocam ninguém.
Os Sindicatos e o PCP estão envelhecidos na sua estrutura, não são capazes de fazer uma oposição e negociações realistas. Partem sempre para uma critica fácil e, muitas vezes, fora dos limites, abusando do direito à liberdade de expressão que tanto apregoam. Esquecem-se que, tal como o direito à manifestação, tem necessárias limitações: o direito à liberdade de expressão esgota-se quando esbarra no direito à integridade intelectual das pessoas. E isso eles não são capazes de compreender.
Isto não é fascismo, é democracia! Isto não são manifestações, é estupidez!