sábado, 13 de outubro de 2007

Um Prémio Conveniente

Al Gore venceu o Prémio Nobel da Paz 2007. Apesar de ontem muitos terem revelado que foi uma surpresa, a verdade é que o nome do norte-americano surgia em muitas listas de favoritos. As reacções não se fizeram esperar e todas elas apontam este prémio como uma condenação cabal da política da administração Bush face ao ambiente.

«Um dos pré-requisitos para ganhar o Prémio Nobel da Paz é fazer a diferença e Al Gore fez a diferença. [...] Al Gore aumentou a pressão sobre os Estados Unidos de tal maneira que o Presidente Bush se viu obrigado a reconhecer, pela primeira vez, que as alterações climáticas são um problema», declarou o deputado conservador norueguês Boerge Brende.

Tudo isto é um mérito do "antigo futuro presidente dos EUA", a frase que faz abertura das suas infinitas conferências. Al Gore concorreu à Casa Branca em 2000 e acabou por perder devido ao despique final no Estado da Flórida, para Bush. Não estou a falar desta enorme campanha presidencial apenas para relatar um pouco da sua história. Falo desta campanha porque o "ambientalista" Al Gore, em 2000, ou seja, há apenas 7 anos, colocou esta mesma questão em plano secundário do seu programa de governo, já que a Educação marcou grande parte da campanha dos dois candidatos. O que fez com que Al Gore, em 7 anos, decidisse dedicar a sua vida ao ambiente?

Desde que abandonou a vice-presidência dos EUA, no mandato de Bill Clinton, em 2001, Al Gore dedicou-se a uma campanha mundial de alerta para o problema do aquecimento global, retratada no livro «Uma Verdade Inconveniente», que vendeu 850 mil exemplares, só em inglês, e o posterior filme, com o mesmo nome, nomeado para os Óscar de 2007 na categoria de Melhor Documentário. Para além disso, tem percorrido o mundo, de conferência em conferência. Para que se saiba, vou citar o site http://resistir.info/climatologia/verdade_incomoda.html (ao qual aconselho uma visita, principalmente à parte final, referente ao período de Governo de Clinton e Al Gore) em alguns pontos:

- "Al Gore foi recebido a 6/Fevereiro/2007 em Madrid pelo presidente do governo espanhol no Palácio da Moncloa [e no dia 8 em Lisboa pelo primeiro-ministro português]. Vários ministros e outras personalidades acorreram à sua primeira conferência em Espanha: "O maior problema actual da humanidade e a nossa contribuição para travá-lo". Conferência que se anuncia nos media com o subtítulo: "debate aberto com Al Gore". Esta conferência permitiu a presença daqueles que pagaram 470 € + IVA, quantia que não dava direito a tirar fotografias nem a gravação audiovisual, nem tão pouco a formular qualquer pergunta ao senhor Gore, proibição que também afectou os jornalistas. Apesar da oferta de lugares gratuitos às organizações ecologistas, algumas destas receberam resposta negativa à sua presença se não desembolsassem a quantia mencionada."

- "Sem dúvida, na película [A Verdade Inconveniente], não podemos ver as causas que provocaram a ruína económica e social desse gigantesco continente [África] que contém uma grande parte dos recursos naturais do planeta e que, talvez, por isso se encontre na actual situação de ruína. Simplesmente, ao mostrar-nos o lago de Chade seco (com uma seta que diz Darfur à direita e Níger à esquerda), indica-nos que o ex–vice-presidente não lhe interessa os outros problemas que existem por lá. E, por isso, não nos diz como solucioná-los."

- "Al Gore não exige responsabilidades aos conhecidos causadores da situação actual e futura, cujo enriquecimento material é ainda maior do que o aumento do desastre ambiental que produziram (só a Exxon-Mobil obteve, em 2006, 30,36 mil milhões de dólares de lucros, o maior jamais alcançado por uma empresa na história do capitalismo), mas exige que aceitemos esta situação como o pecado de toda a humanidade e que trabalhemos todos juntos no futuro para nos salvarmos do perigo que está para acontecer. "

Não duvido que Al Gore esteja preocupado com o ambiente. Duvido, sim, das suas intenções. Dinheiro já ganhou imenso e chega-lhe para comprar dez cargueiros cheios de automóveis híbridos. Continua a negar que a Casa Branca seja, de novo, o seu objectivo. O problema é que, desta vez, ganharia. E agora? Os americanos vão querer mais um maluco da guerra ou um chulo hipócrita?

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